HOME | DD

Damnedin — V Ouro by-nc-nd
Published: 2007-02-12 22:21:24 +0000 UTC; Views: 267; Favourites: 2; Downloads: 1
Redirect to original
Description Durante a semana que antecedeu a chegada da família, tive o prazer de conhecer a cave que eu tanto queria conhecer. Irinna levou-me para lá para falarmos sobre a Arte. Era um lugar abafado, a única iluminação era de velas postas em candelabros e da lareira de mármore cinzento. Era grande e todos os sofás e poltronas eram vermelho-acastanhados e antigos. As paredes que deviam ter mais de três metros estavam completamente cheias de livros, fiquei estupefacta com a quantidade de sabedoria em papel que existia dentro da casa de Evan.
No primeiro dia perguntou-me sobre a origem dos meus pais, disse-lhe que não sabia, nunca tinha conhecido os meus avós, nem tios, nem primos e eu era a filha única. Sempre com o seu ar imponente Irinna ouvia tudo o que eu lhe dizia e por vezes corrigia a minha postura e palavras.
No segundo dia já não aguentava tamanha curiosidade sobre a Arte e pedi a Irinna que me explicasse em que consistia.
- É tudo aquilo que terás de saber sobre como lidar com a casa de Bathory.
- Espere um momento, eu conheço esse nome mas não consigo lembrar-me de onde. - atalhei confusa.
- Conheces pois, todos nós conhecemos. É o sobrenome da família, mas foi retirado a Evan quando este foi registado no Registo Civil. Bathory é uma família húngara, mas que veio para o Sul há cem anos. Assim dizia a profecia e assim teria de se cumprir. Deves conhecer o nome Bathory de uma das muitas histórias que se contam sobre a antiga Elizabeth Bathory. Ela ficou conhecida como a Condessa Sanguinária depois de torturar e matar mais de seiscentas mulheres.
- Ah, sim... - respondi muito mais curiosa. - Mas conte-me mais sobre a Arte.
- A Arte é a essência. Da Arte faz parte saber respirar, saber falar e saber tirar prazer de tudo o que tens ao teu alcance. - explicou andando pelo meio das poltronas e das mesinhas até chegar ao pé da lareira onde se sentou em cima de uma pequena almofada.
Pediu-me para que me sentasse também. Sentei-me e a explicação durou horas. Podia jurar que à medida que Irinna falava sobre as propriedades do sangue das virgens e de como a mulher do Herdeiro poderia tirar partido disso eu via imagens de jovens raparigas transfiguradas saltar do fogo que ardia na lareira. Deu muita importância aos métodos que poderiam ser utilizados para usufruir dele sem que a autoridades dessem por isso. Falou-me também da influência da Natureza na mulher do Herdeiro e por fim, falou do próximo Herdeiro.
- Não poderá ser do sexo feminino, se assim for, terá de morrer antes do nascer do sol do dia seguinte. - disse finalizando o longo discurso. - Eu vou subir, já deve ser hora de preparar o jantar. Podes ficar aqui se quiseres, Marie virá ter contigo daqui a pouco. Pede-lhe que te prepare o vestido de cerimónia, hoje chega a minha irmã Emmelind que vive na Escócia. Ela adiantou-se ao saber que o ritual tinha sido feito.
- Sim senhora. - respondi.
- Não me chames senhora, a senhora agora és tu. - emendou.
Irinna subiu as escadas brancas e fechou a porta. Fiquei sozinha por mais de uma hora e examinei a sala. Nas paredes os livros estavam organizados por tema, haviam livros escritos naquela língua e outros em Português. Experimentei todos os assentos da sala e acendi todas as velas dos candelabros. Marie chegou quando eu levantava o tapete à procura de um alçapão, como havia sempre em todas as salas da cave nas casas assombradas.
- Que está fazendo? - perguntou Marie ao entrar na sala com dois vestidos na mão.
- Estava... - tentei inventar uma desculpa, mas não consegui - estava vendo se há alguma entrada para outro compartimento da casa.
Marie riu e disse que havia, mas eu teria de escolher primeiro o vestido que usaria nessa noite.
- Esses vestidos são meus? - olhei-os desconfiada.
- São. O senhor Evan pediu-me que pedisse para fazê-los na semana passada e eles acabaram de vir da lavandaria. - disse Marie.
- Ah, está bem.

Emmelind era estranha, fechava-se no quarto durante o dia, saía pelas oito da noite para jantar. Trazia sempre o seu cabelo loiro apanhado numa enorme trança, que lhe passava das coxas. Apesar de tudo, quando ela saía do quarto, era muito atenciosa comigo; trouxera um perfume da Escócia, e um pente de prata e marfim que dizia ter propriedades mágicas. Saí algumas vezes com ela para o jardim durante a noite. Ficava acordada até cada vez mais tarde. Entretanto Marissa, Yoan, Charity, Prudence e Hope chegaram, e as minhas "aulas" sobre a Arte avançaram.
Irinna não era mais que uma vampira, e a mulher do Herdeiro não passava de uma vampira que vivia uma vida luxuosa. Fiquei receosa de me tornar na "mulher do Herdeiro" e de praticar a Arte. Não estava preparada. Irinna providenciou tudo, cada vez mais dava-me a comer carne vermelha, mal cozida e poucas verduras. Habituou-me ao álcool e a dar a volta a Evan. Ensinou-me tudo aquilo que uma mulher pode desejar.
As trigémeas eram autênticas ninfas, a pele delas era tão branca, os olhos azuis como o céu e os cabelos encaracolados e ruivos. Hope era a rebelde, tinha uma tatuagem de uma "Ankh" no pescoço, o seu falar era rude, mas a sua voz era doce. Charity era a mais faladora delas todas, trazia sabedoria no falar e pelo que se notava, era das trigémeas a que tinha o passado mais vergonhoso para a família. Prudence era a mais tímida, mas a mais sombria das trigémeas; Prudence mal falava.
A tia Marissa também era ruiva e mesmo muito parecida com as trigémeas, era jovem e tinha muita energia, parecia uma autêntica estrela de cinema, com um toque um pouco medieval. O tio Yoan era estranho, era gordo e não se entendia o que falava, cheirava a menta e tinha um bigode fininho.
No dia que Natascha, a prima de Evan chegou, as gémeas estavam no jardim bordando enquanto eu, Irinna e Natascha passeávamo-nos por lá; Charity chamou-me e fui ter com elas ao coreto coberto de buganvília onde estava uma mesinha cheia de frasquinhos. As trigémeas perguntaram-me como eu fazia para ter sempre o cabelo liso, expliquei-lhes que me penteava muito, mas não tinha nenhum truque especial. Depois perguntaram se era bom ser a mulher do Herdeiro.
- Eu mal comecei. - disse assustada.
- Ah não faz mal, daqui a duas semanas conta-nos. - brincou Hope piscando-me o olho, enquanto Charity batia as pestanas energicamente. - Mas que disseram os teus pais sobre te casares tão cedo?
Hope apanhara-me de surpresa. Já não via os meus pais há mais de duas semanas, fiquei um pouco atrapalhada e corei. Não sabia mesmo o que responder e encolhi os ombros. Prudence, olhou-me com um ar indignado mas como não tinha costume de falar muito, não proferiu uma única palavra. Charity e Hope soltaram uns risinhos histéricos. Eu sorri ao ver Irinna se aproximando. A expressão na sua cara era agradável, mas ao mesmo tempo mostrava fraqueza, como se Natascha tivesse dito algo que a assustara. Ao chegar ao meu lado, sorriu e subiu ao coreto e observou a mesinha com os frasquinhos.
- Anda cá. - chamou-me franzindo a testa.
Eu subi e sentei-me. Ela estendeu-me um frasquinho com um líquido fúcsia e outro com um outro líquido, que parecia mais espesso, mas desta vez era violeta.
- Abana o primeiro frasco que te dei. - disse.
Abanei. A água cor-de-rosa transformou-se em algo transparente com muito brilhantes, que brilhavam, brilhavam e ofuscaram-me a vista como se alguém tivesse jogado água a ferver para os meus olhos. Deixei ambos os frascos cairem e esfreguei os olhos. Senti Irinna me agarrando pelos ombros e dizendo "Calma... tem calma, vai passar."
Em menos de um minuto o ardor tinha desaparecido. Irinna explicou-me sobre as propriedades daqueles perfumes, os seus poderes não actuavam somente através do olfacto, como também através da visão e muitas vezes do tacto. Aquele que me "queimara" a vista era chamado Ouro das Virgens e era como o ouro: ofuscava a vista àquelas que nunca tinham experimentado o prazer. O perfume violeta era quase o contrário do Ouro das Virgens, era o Ouro da Adúltera.
Related content
Comments: 6

Frostlady [2007-02-12 23:44:35 +0000 UTC]

Está linda! *.* Vou aproveitar tambem para ler as anteriores para perceber bem a historia!
Gostava tanto de ter esse jeito com as palavras!

👍: 0 ⏩: 1

Damnedin In reply to Frostlady [2007-02-13 09:12:56 +0000 UTC]

Chi quando vires o sexto então é que vais dizer!! Só o começo já é assim de se admirar, até eu fiquei espantada com o que escrevi

👍: 0 ⏩: 1

Frostlady In reply to Damnedin [2007-02-13 09:15:58 +0000 UTC]

Vou ficar à espera!

👍: 0 ⏩: 0

Ezaka [2007-02-12 22:25:14 +0000 UTC]

mal posso esperar ^^
gostei do capitulo

Amo-te muito!!

👍: 0 ⏩: 1

Damnedin In reply to Ezaka [2007-02-12 23:02:55 +0000 UTC]

gostaste por gostar. o 6º vai ser lindo hihihih

también ti amo

👍: 0 ⏩: 1

Ezaka In reply to Damnedin [2007-02-12 23:07:11 +0000 UTC]

lol ok se o dizes . Espero bem que sim ^^

👍: 0 ⏩: 0